domingo, 30 de setembro de 2007

Mal.

Ontem a minha casa foi assaltada.
Levaram os três portáteis, a máquina fotográfica e o ipod do Francisco, tal como uma mala inteira cheia com roupa dele e um blusão novo, a webcam e um perfume da Ângela.
Sim, sinto-me perdida.
Vou mudar de casa.
Já não vou viver com o Francisco.
Não tenho sorte nenhuma e Erasmus é difícil, muito difícil.
Durmo em casa da Sofia hoje.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Curiosidades (I)

1º- À noite estávamos a falar na rua e um sem-abrigo mandou-nos calar desde o seu pedaço de cartão porque queria dormir.
2º - Na zona do Ravall, à noite, há duas "mimos" que mandam as pessoas falar mais baixo por causa dos vizinhos e fazem com que todos andemos murmurando rua afora; já os senhores seguranças do bar, não.
3º- Quarta-feira (ou miercoles ou dimecres) andei a mergulhar num caixote de entulho. Sendo Noche de Trastos, trouxemos do lixo 3 espelhos de corpo inteiro, um anúncio a aspirina e outro a creme. Podemos ter uma decoração nova todas as semanas só com as coisas que trouxermos do lixo!
4º- A Ângela já chegou e é porreira.
5º- A Isabel e a Carolina já têm piso.
6º- O Jota muda-se amanhã para o piso novo dele (lá se vai a boa comidinha! Mas eu tenho potencialidades para ser uma óptima cozinheira, não desfazendo!)
7º- Segunda-feira começo as aulas.
8º- Vou a Lisboa dia 3 :)

Habitación.

Bem vindos ao meu palácio!

As minhas camas.

A minha enorme wc!

Loading...

Dois postais de Lisboa estão já a decorar este cantinho. És a mais querida! :)
Mandem-me fotos, amiguinhos!

1º Menú.

Sopa: de legumes (ensonsa e aguada)
Prato principal: arroz branco com nuggets e salada.

Jota, Carolina e Isabel a apreciarem o grande petisco

Beijo.


Estar longe custa. É desafiador, é excitante, é avassalador e sôfrego. É tudo o que deixamos ficar para trás nas nossas rotinas, que achamos maçadoras, mas que são o resultado de um conforto que escolhemos para nós, para as nossas ideias, manias e vontades de ser. Aquilo que somos decorre dos nossos quartos, das nossas vivências, das nossas famílias e do carinho que recebemos. Já se lembraram alguma vez da necessidade que temos uns dos outros?

Por isso é bom acordar e esperar, ansiosamente. Recorrer a mais uma distracção, a mais uma gargalhada, uma conversa sobre nada que nos diverte e nos faz olvidar aquilo que nos magoa: as saudades. Almoço com o relógio e corro, corro. Não chego cansada, embora esteja a suar e mesmo que fosse chegar a horas se não corresse. Depressa.
É entusiasmante largar as distracções e correr. Saber o que esperar, desabafar, encontrar tudo igual; a mesma voz, os mesmos gestos, o mesmo afecto. Passear, conversar, comer uns doces (claro) e rir de piadas que eu percebo, que eu ansiava ouvir. Viver aqui ensina-nos a ansiar.

Dar abraços, levar uns quantos beijinhos e mais outro e outro, por entre uma garrafa de água, uma visita ao Lagarto, ao mar e uma caminhada pela Rambla. E, depois, voltar a casa, fazer serão e saber bem. Aqui, as coisas sabem bem quando sabem.

Dizer adeus. Mais um beijo, mais um abraço. É só um até já, mais um 'até breve'. Deixa-me descansar, estou a suar de novo, vim a correr.

O tempo discorre e escorre de novo. Voltam as questões à volta do fogão, as idas às compras, os passeios, as festividades e os jantares, as distracções. Não posso parar, aqui vivo a correr.

Aprendo a ter força, a esperar, a apreciar. Se para mais não sirva, aqui sou todos vocês. Cesso, quando não corro e me preparo para receber mais beijinhos e abraços.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

La Mercè.

"Què passaria si durant quatre dies tothom sortís al carrer i qualsevol cantonada es convertís en un escenari? Això, a Barcelona, passa un cop l’any pels volts del 24 de setembre: la ciutat està de Festa Major."

As Festes de la Mercè são mais uma celebração do acérrimo orgulho catalão. Combinam família, amigos, pares e solitários. Montam-se palcos em ruas banais, surgem músicas e guitarristas, os cantores de ópera recolhem e baralham-se com as gentes, os turistas, um pouco perdidos, resolvem embarcar na animação, nos jogos, nos concertos e nas tradições. Há fogo de artifício todas as noites, muito barulho, cheiro a waffles, muitos gigantes que se passeiam pela cidade e gente, muita gente!

E eu fui, eu estive cá, na Festa Major catalana.

DIA 21
De manhã saí pelas ruas em direcção à Plaça de Catalunya para apanhar o comboio para ir para o Español. Fiz os trabalhos de casa no caminho (tenho-os deixado para esta altura e, de todas as vezes, acabo-os na antepenúltima estação, pelo que anda consigo dormitar uns bons 5 minutinhos!) e lá fui a arrastar-me.
A minha turma agora é algo de ridículo. Como há gente que já começou as aulas acabamos por ficar uns 4, enquanto outros entrem e saem alternadamente, para fazerem não-sei-o-quê. O que faz com que, logo de manhã, a profª Pilar me obrigue, não só falar espanhol, como a contar histórias divertidas. (...) Não.


Quando regressámos a Barcelona, algo se tinha passado. Imensos palcos, cujas estruturas tinhamos notado vagamente durante a semana, estavam já perfeitamente montados e enfeitados, somente à espera do Pregó que daria início às festividades para explodirem em música. Também imensas wc's portáteis haviam sido estrategicamente espalhadas pela cidade. A Guardia Nacional e os Mossos de Esquadra passeavam-se agora calmamente um pouco por todo o lado.
E se a organização era fascinante, melhor foi quando "la coratjosa oceanògrafa Josefina Castellví" discursou (em catalão!!) e soou o toq d'inici. A cidade entrou em erupção (viemos a casa num instante comer umas bolachas com nutella e ouvimos a onda de excitação)!



19H45 - Plaça de St. Jaume: desfile (e dança) dos símbolos da cidade, a maior parte de carácter medieval, desde leões a cavalos (parece-me que o senhor o apresentou como "bolacha f*dida", mas não posso garantir, não domino ainda o catalão), passando por dragões. O rei e a rainha, umas figuras com uns 5 metros, protagonizaram a dança mais sensual dos últimos tempos.

22h - Praia de Barceloneta: sentámo-nos - eu e o Jota - à beira-mar a comer umas maravilhosas sandes de queijo com salsichas, tudo comprado no supermercado de paquistaneses mais proximo. Não sabiam bem, colavam-se aos dentes. Mas foram baratas.
Esperámos pelo fogo-de-artifício e pela Sofia e a Francisca e por um grupo de portugueses que conhecemos num jogo de futebol. O fogo-de-artíficio não foi dos melhores - os franceses têm mais jeito para champagne e baguetes-, mas a conversa (que está gravada) sobre a 'outrora Rute' teve a sua piada, especialmente porque o Jota estava quase convencido que a conhecia de algum lado realmente familiar.

22h30 - Encontrámo-nos com o Paul e o Hector e conhecemos o Yannick (belga) que também é de Comunicação. Vimos um concerto de jazz electrónico na Plaça del Rei enquanto gritávamos uns para os outros num "esportingfrances". O Hector contou-me que veio para cá porque a namorada queria casar e ele não sabia se ela era a tal; o Paul é meio-simpático, meio-estranho; o Yannick veio cá para curtir a vida porque não tem ninguém a dizer-lhe o que fazer.

00h - Parc del Forum: uns dreads estavam a passar hip-hop e eu resolvi comer o que sobrava da minha sandes de salsichas nojentas. O Paul gozou com a minha pobreza mas achou que valia uma foto.

DIA 22
Levantei-me com vontade de limpar o meu quarto.
A minha casa produz cotão a uma velocidade estonteante. O que eu já devia ter previsto, dado o estado horroroso em que se encontra o cão da vizinha que, basicamente, é um cotão que ladra. Tem rastas no focinho.

18h - Carolina, Isabel, Jota e eu fomos dar uma voltinha, cirandar pelo meio das barraquinhas que minavam a parte mais marítima da cidade, espreitar as golondrinas (que não eram grátis) e tirar umas fotografias, pois claro.

20h30 - Av. Francesc Cambó: CORREFOC! (foto primeira) Possivelmente das tradições mais giras de la Mercè. Mais de 50 homens e mulheres vestidos de diabos e acompanhados por tambores descem toda a via Laietana rebentando cartuchos de pólvora, lançando faíscas para cima das pessoas, fazendo os miúdos gritarem de medo e de entusiasmo e deixando atrás de si um cheiro nauseabundo a enxofre. Mete medo, especialmente quando os cartuchos rebentam, mas não queima! É giríssimo!
Também os dragões desfilaram, com cartuchos acesos, e grupos da nossa idade punham-se à frente deles a gritar "No pasarás! No pasarás!" e logo os dragões se lançavam para cima deles, faíscas por todo o lado, e toda a gente fugia e gritava.
Conselho gratuito: levar roupa de algodão que proteja braços e pernas, um chapeu para não queimar o cabelo e um lenço para não respirar tanto fumo.


22h - Playa de Barceloneta: corremos até à praia para assistirmos a um fogo-de-artificio lançado, desta vez, por quem sabe: portugueses! Não é para nos gabar, mas foi francamente melhor que o do dia anterior, com dois pontos finais bem marcados e tudo! POR TU GAL.

DIA 23
15h15 - Corrida para a Estació du Nord: o Miguel está a chegar!

Bastou passear pela Rambla, revisitar o mar, apreciar os novos cheiros e as pessoas que se acotovelavam nas ruas, todas cheias. Todas animadas. E eu também!

23h - Plaça de Catalunya: Sueño de Morpheo cantou e toda a gente sabia as letras, são uma especie de fenómeno aqui. E nada melhor do que ouvir cantar as gentes depois de um crepezinho com uma bola de strawberry cheesecake com a boa companhia... de uma waffle de chocolate! ahah.

DIA 24
15h - Parc Guëll: fomos - Miguel e eu - passear ao parque mais giro de sempre, com o Lagarto mais asseadiado de sempre. Sem exagero, o Gaudí era um génio da estética e do respeito pela natureza! Mas coitadinho do Lagarto, não há quem o respeite; é montado e apalpado, apertado e escalado. Nunca se sentirá sozinho, isso é certo.

22h - Plaça de España: corremos para ver o Piromusical depois de uma tentativa deprimente de fazer uns filetes com puré. A música acompanhava a explosão dos foguetes e todos os olhares se voltavam para o céu, extasiados.
... e eu só me lembrei de que tinha uma máquina fotográfica 2min antes de acabar.

DIA 25
13h - Saímos pelas ruas barcelonesas para que o Miguel pudesse respirar mais um pouco desta magnífica poluição disfarçada por uma leve brisa do mar.

15h15 - Corrida desenfreada até à Estació du Nord: adeus. Não tarda nada estou aí!

VIVAM AS FESTES DE LA MERCÉ!

Santo António e manjericos: you're out.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Festes.

Anteontem à noite resolvi embarcar nisto de ser Erasmus e, depois de um jantarinho em casa da camarada Sofia, fui a um bar minúsculo de seu nome "Fantástico" onde se reuniram uma data de seres como eu. Sinceramente, mal entrei lá dentro! Fiquei cá fora com os já portugueses do costume e mais uns mil (sim, somos uma epidemia!), enquanto conversávamos com uns franceses que conheceramos essa manhã na UAB, o Paul e o Hector. Para além deles, havia a Joanna da Polonia; o Mateo - francês - que não sabia respeitar o espaço pessoal das pessoas e se aproximava demais pelo que, quando me convidou para dançar, me fiz de surda; uns 3 ou 4 finlandeses, sendo que um já estava lá todo entretido com uma de identidade desconhecida; um italiano - onde param os italianos por aqui? - que era meio árabe e estava de fato (não me perguntem porquê) e tenho de frisar o português/francês/italiano Pedro que fala perfeitamente (!) 5 línguas (portanto, ainda sabe falar o espanhol e o inglês)! Acreditem, é realmente impressionante, especialmente porque ele funcionava como se de uma cassete se tratasse, não fazia as confusões de línguas que todos nós fazemos, era mesmo como se todas fossem uma grande língua e se pudesse mudar de uma para outra sem grande esforço ou hesitação!... É parecido com o Diamantino (ainda que ele não tenha amado ser comparado a um homem de 40 anos...)!
3 horas depois de estarmos a fazer conversas de xaxa que aí não me dariam luta ou vontade nenhuma mas que, aqui, eram a coisa mais gira de sempre - sabiam que ratatouille é o nome de um prato? E que Bcn é a 3ª cidade mais poluída da Europa?-, a expor o nosso largo rol luso de canções francesas que tivemos de gramar no ciclo e no secundário, era altura de irmos para a festa!... Claro que eu tive de ir fazer a festa para minha casa, porque tinha deberes para o dia seguinte e tinha de os ir fazer, para além de que tinha aula na manhã seguinte!

Ontem à noite resolvi fazer um programinha com as minhas colegas alemãs do espanhol. Ah, - não contei -, agora estou mesmo no meio dos que falam alemão. Os únicos que também não falavam desistiram e agora estou sola com a comunidade nazi... Mas eles são simpáticos até.
Acontece que o programinha era ir ao MACBA ver uma exposição de arte contemporânea.
Mal não me fez! Era totalmente gratuito (têm sessões culturais das 20h as 24h) e constitui um dos must se de Barcelona!... Só que, reparem, eu nunca consegui perceber certas formas de arte e esta não seria com certeza aquela que entenderia...
Desde camas penduradas na parede, a homens com cabeça de cão, vídeos ininterruptos com homens a pôr o pénis para trás para serem mulheres, homens dentro de caixas a gritar, embalagens de detergente, lixo espalhado no chão, papel aderente com aranhas gigantes mortas dentro de caixas de madeira; não consegui entender. E, já que ali estávamos, eu e o J. pareciamos duas crianças, a fingir que percebiamos e a anhar descontroladamente.
Já as raparigas do meu curso... Passeavam com a maior atenção do mundo e creio que a Lea (suiça) ficou ofendida quando lhe disse que nada daquilo fazia sentido. Só o Alex (alemão) é que andava para lá mais um amigo a gozar e a tentar compreender alguma coisa. Mas acho que, no fim, só eu e o J. é que pareciamos umas crianças a jogar às escondidas num lugar de respeito.
Despedimo-nos das miúdas e fomos beber um copo ao Oveja Negra, um conhecido bar de Erasmus daqui, que é um bocado claustrofóbico. Ainda esperámos pelo Tiago (português) e pelo Hector, mas o Tiago não podia e o Hector demorou tanto tempo a chegar que desistimos dele. Sentámo-nos ao pé de um brasileiro cujo pai era italiano, de um argentino que falava brasileiro e de uma búlgara que devia ser a mistress do grupo e eles meteram conversa comigo, todos bebados, a jogar aos escravos de józ. Nunca tinha visto ninguém beber com este jogo, mas eles estavam divertidos!
O engraçado de estar em Erasmus é podermos sentar-nos ao pé de alguém e, sem razão aparente, termos autorização para gesticular, fazer comentários estúpidos e aceitar parvoíces. E também podermos virar costas e ir embora. No fundo, é sermos nós próprios mas contrariarmo-nos porque é giro conversar, mesmo que sobre nada, não ter medo do que os outros pensem ou sequer avaliar o que os outros digam.
Esta noite dormiram lá em casa a Isabel e a Carolina que ainda andam à procura de um piso. Quanto ao J., já encontrou um canto para ele que ele parece adorar - vai morar com 3 mulheres, uma finlandesa, uma polaca e uma francesa - e muda-se para lá no fim do mês, ao mesmo tempo que a Ângela se instala definitivamente lá em casa.
Até lá, temos as visitas de duas amigas do Francisco que se instalaram no quarto da Ângela/quarto onde estava o J..
Nem sabem a confusão que tudo isto deu. Talvez um dia conte! Quando cá vierem!:P

Este fim-de-semana são, pois, les Festes de la Mercè que, segundo o que eu aprendi hoje na aula de español, é a padroeira de Barcelona, ainda que a minha professora não soubesse sequer por quê. De acordo com a net, tem algo a ver com uma praga de lagostas. Weird.
De qualquer das formas, o que interessa é que há umas vinte mil actividades preparadas pelo Ajuntament de Barcelona e algumas bastante engraçadas de cariz altamente popular e tradicional!
O mais engraçado é que é uma festa que pensa em toda a população, com workshops e programas para miúdos e graúdos, para famílias e grupos de amigos. Há espectáculos de pirotecnia musical, desfiles de gigantes e castelleres, hip-hop, breakdance, música tradicional, gastronomia, artesanato, passeios de golondrina, concertos - vou ver os Ojos de Brujo de novo -, baile de sardanas, museus gratuitos e correfoc.
As festividades começam hoje e o pregó (discurso) e o toq d'inici são mesmo ao pé de casa! Duram até dia 24 (que é feriado) e o metro vai funcionar ininterruptamente até às 00h desse dia, o que é fixe. Já tenho um programa mais ou menos delineado, um mapa dos autocarros e aí vou eu!... Por isso Maiki, welcome to Barcelona! :)
Ah, a minha professora gozou com a Noche Blanca! ahaha xD Diz que os madrilenos só querem imitar a Catalunya, mas que a 'nossa' festa é muito melhor!
Aqui quase que não se pode relembrar que eles estão ligados ao resto de Espanha. Chamam-lhe 'el país de la Catalunya', portanto estão a ver o género. É um sacrilégio eu estar a aprender a falar espanhol e não catalão! Enfim, mariquices!

Estou constipada que nem uma anormal, tenho mau aspecto porque não consigo respirar, pago 5,55€ por um prato na cantina da UAB (recusei-me a pagar), tenho de lavar a roupa e a loiça, de pensar o que vou fazer para o jantar, mas gosto de aqui estar! É desafiante, mas quando me passeio pelas ruas e oiço música e animação por todo o lado, percebo que estar longe de vocês é só um meio para vos vir a apreciar mais, para perceber a importância do descomplicado, das coisas simples...
Ontem recebi um postal de Lisboa. É das coisas mais bonitas de se receber! Obrigada Mãe :')
Até já!*


quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Comboio.


Tenho a dizer que tenho coisas para contar. Ontem fui a um barzinho cheio de Erasmus e tive um dia giro, conheci gente e já estou a entrar naquela cena do "Como te llamas? I'm Joana. Oui, I can speak français, pero es mejor if we talk in spanish, no?"... E já meto palavras espanholas no meio do meu querido português!... Sou mesmo emigrante:/

Mas agora não posso escrever, tenho de voltar para a civilização (o que significa que ainda tenho de ir apanhar o comboio) para ir aos correios e às compras!


terça-feira, 18 de setembro de 2007

Andrógenos.

A minha faculdade é mesmo gira!
Estive a tarde toda aqui na biblioteca. Tem muita luz, muitos computadores (estou aqui há umas duas horas e ninguém me diz nada), muitas mesas para estudar e um aspecto agradável. Atrás de mim há também várias televisões ligadas a dvd's e vídeos e podemos, muito simplesmente, levartar-nos, ir procurar um filme a uma das prateleiras que aqui estão, pôr os auscultadores e ver! Aqui está-se bem e amanhã vou trazer o meu portátil para ver se consigo sacar com a net da faculdade episódios do Prison Break (sim, voltou!!) e do Coupling, que a Quina acha piada.
Ontem comprei internet da vodafone, uma espécie de ratinho que se liga à porta USB. Mas o vizinho à noite esteve generoso e, não só tive net, como estava mesmo rápida e pude ver a minha família pela webcam. Que saudades! :) Vai na volta ainda consigo sacar o PB com a net lá do Bairro!
Ah, ainda não tinha contado: o meu vizinho da frente é ladrão. Ou melhor, segundo os outros vizinhos, foi ladrão "pero, ahora tiene una moto y trabaja. Más pequeño era muy malo!". Ao que parece, as motas devem mudar a personalidade de uma pessoa... Passando à frente, outro dia estàvamos eu e o Jota lá em casa e tocam na porta lá em baixo. Fui à janela ver quem era e deparei-me com um rapaz magrinho de saco de plástico na mão. "Não sei quem é, não vou abrir", pensei. Mas o Jota abriu a porta ao saber que era o filho da vizinha da frente. "Deve ter-se esquecido das chaves!", pensou ele.
Mas não. Ora, o filho da vizinha da frente é, precisamente, o ladrão.
O tal rapaz magrinho era amigo dele, já o ladrão era um rapaz encorpado e com a barba por fazer. Ao chegar ao patamar, tocou à porta. Isto é, à MINHA porta. "Mas por que raio está ele a tocar à minha porta?! Não vou abrir a porta ao Ladrão!". E tocou, e tocou e bateu à porta... e tocou, e tocou e esmurrou a porta... E tocou durante uma (!!) hora. Estava a entrar um bocadinho em pânico.
- Oh Jota, perguntamos-lhe que é que ele quer e dizemos que não vamos abrir a porta porque não o conhecemos!
- Oh Joana, ele não vem propriamente pedir um raminho de salsa, não achas?!
E não abrimos a porta.
Telefonei, então, ao senhorio, o Sr. Miguel, que veio logo a correr e é um amor de pessoa.
- Entonces, qué passa? - perguntou o Sr. Miguel quando chegou ao patamar e deu de caras com o Ladrão e o seu amigo Maltrapilho
Ao que parece, o Ladrão tinha-se esquecido das chaves e, como a mãe estava a dormir, esteve 1 hora a tocar à minha porta para eu lha abrir e o deixar saltar pela janela que dá para o pátio interior para que ele pudesse escalar até casa dele.
Ora portanto. Ia abrir-lhe a porta depois de ele, assustadoramente, quase ma mandar abaixo para que ele pudesse ver tudo o que há lá em casa. Sim, era bastante inteligente da minha parte!
Mas o Sr. Miguel lá nos perguntou se ele podia entrar, para não criar mau ambiente... Fechámos as portas todas, ele saltou pela janela e desapareceu. O amigo Maltrapilho nunca mais foi visto.
Quando saímos de casa, uns 5 minutos depois, a música estava aos altos berros. Sim, é claro que a mãe estava a dormir e é claro que fazia muito mais sentido chatear os vizinhos durante uma hora. É claro.
Hoje falei com a Ângela ao telefone. Pareceu-me bem mais porreira. Espero que corra tudo bem entre nós!

Sabem qual é o maior fenómeno aqui? La Rambla. De dia é uma loucura, só turistas e bicicletas e estátuas humanas - Sarita, o senhor que tem o mundo às costas continua a ser calão! -, bancas de venda de flores e animais (sim, há galinhas e furões na Rambla), quiosques e gente de um lado para o outro; à noite, notamos explicitamente prostitutas (são todas pretas e quase todas de cabelo encaracolado) e travestis/transsexuais (que são todos brancos, de pernas à mostra e homens) que se metem com os desgraçados da vida. Pior pior foi ver outro dia duas prostitutas a cumprimentarem-se e uma levava um atrás dela enquanto se desviava para um beco todo nojento. Estar perto daquilo meteu-me arrepios!
Ah, e depois temos sempre os gays. Que até são queridos! Andam de mão dada, passeiam os cães aos parzinhos e ninguém parece importar-se muito com isso!... Por outro lado, os únicos heterossexuais homens que existem tem um ar um bocado, como direi?, oleoso. As espanholas, por sua vez, são autênticas ventosas porque, quando olham, ficam mesmo mirando.

Hoje acordei melhor (Dani, obrigada pela mensagem:D)! Dói-me só a garganta porque quando vou para o comboio chego a pingar de andar tão rápido e por causa do calor e depois, uma vez lá dentro, apanho com o maravilhoso ar condicionado em cima. Óbvio que não correu bem!... Já o olho está quase bom!

E o Maiki vem cá no fim-de-semana (espero) e vai haver uma grande festa aqui em Barcelona nesses dias! Fieste de la Merced! O que é fixe e faz com que segunda-feira seja feriado e nao haja espanhol!
E, por falar em espanhol, tenho de ir fazer os meus (aborrecidos) deveres.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Autònoma?

Estou cheia de saudades. E, hoje, um bocadinho mais triste. Por fim, a moeda caiu.
O fim-de-semana foi sufocante. Não fiquei em casa a chorar, saí de mochila às costas para procurar internet porque a do vizinho não funcionava e porque precisava de falar com alguém.
Fui a casa da M. e fomos tomar um café. Lá desabafei com ela. É que, sabem, eu sou a Joana, aquela que vive o Sábado e o Domingo de dia com os pais e, à noite, com vocês. E acordar na manhã de Sábado e não ter os miminhos que anunciam o descanso da semana deu cabo do meu auto-controlo.
Não sou uma pessoa de ilusões e felicidades instantaneas. Não aceito imediatamente algo como o 'melhor da minha vida'. Entranha-se tudo em mim com calma e por força do tempo e as coisas que antes se tornaram importantes sobrepoem-se a tudo o que é novo. Sou assim, não me perguntem porquê...
Quanto às pessoas que se "tem" de conhecer em Erasmus. Vim mais cedo para fazer o curso de español porque acreditava que encontraria pessoas parecidas comigo e tão à toa como eu. Mas, reparem, eu estou numa turma com uma data de alemães (que não são das pessoas mais afáveis do mundo) mais velhos do que eu. Falo com eles nas pausas, sou muito simpática e faço as minhas gracinhas (sou possivelmente a pessoa com mais humor a seguir à professora), mas eles não alinham muito.
Portanto tenho andado com os portugueses, com a M. que durmiu cá em casa ontem e com o J. que anda à procura de casa para, quando a Ângela chegar, já ter um canto só dele.
Temos tido episódios giros ao procurar casas. Vimos das casas mais nojentas, mais minúsculas e mais escuras de sempre e, inclusivé, visitámos uma casa onde moravam dois gays (percebemos porque, nas paredes, só havia homens nus em calendários e em poses sensuais. MEDO. Para alem de uma cadeira forrada com a bandeira dos homossexuais!) e outra onde nos veio atender à porta uma senhora com idade para ser nossa avó e que morava com a mãe e que queria alquillar um quarto a um estudante.
No Sábado, estivemos num concerto desse grande grupo catalão que são os "Girasol". Foi giro, eu, M. e J. cantámos e dançámos enquanto o F. ficava lá para um canto a olhar para nós com cara de polícia. Acho que deve ser síndrome de "homem-de-22-anos-que-não-quer-fazer-figuras". Ainda não fui sair para nenhuma discoteca que isto aqui são 15€ a entrada e a noite termina às 4 da manhã! E também porque não sou menina de discotecas, perdoem-me.
Ontem lavei roupa! Mas que grande aventura! Sabem centrifugar? Eu já sei!

E hoje estou irritadiça (TPM?) e tristonha. Para além disso, tenho uma infecção num olho, o que não é nem atraente nem prático!

Meus meninos, minha família, continuem a mandar mails. E mandem-me mensagens para o portugues também que está sempre ligado! Sabem, este primeiro mês (segundo me constou), é o mais difícil e assim sempre me sentiria mais acompanhada. E menos triste (hoje não é um bom dia...). Pode ser?

Suburbana.



quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Español.

Tenho andado distraída.
Passeado bastante pela cidade e tenho-me rido imenso com o J. e o F. que ontem pareciam dois estarolas. Num grande passeio que fizemos desde aqui à zona da Gràcia e afins - Manel, vai ver ao Google Earth :P -, falámos de tudo um pouco e, espantem-se, foram eles que se dispersaram em temas como a depilaçao ou o meu período, dado que o F. diz que nao vai aguentar viver com duas mulheres em momento menstrual.
Ah sim, ontem conheci a Ângela. É pequena e estava um bocadinho nervosa quando chegou porque queria fazer a cama dela e pôr as roupas no armário e o J. tinha lá as dele (demos-lhe guarida, até ele encontrar casa, no quarto dela). A apresentaçao nao foi calorosa ou simpatica da parte dela, mas espero que tenha sido só porque encontrou o suposto quarto dela com as coisas de um marmanjo qualquer (ou entao foi porque eu estava de avental e isso nao é nada atraente, pois nao?). Depois acho que acalmou um bocado. Falei um pouco ela e ela disse-me que precisava muito do seu espaço e que era alérgia ao pó e que se ia embora no dia seguinte e só volta lá para dia 27 porque faz anos dia 25. Portanto, o J. deve regressar para o quarto até lá, pois eu nao tenho de partilhar quarto com ele se há um quarto a mais. E nem o faria. Quer dizer, nao sou Madre Teresa de Calcutá, embora tenha muito bom coraçao!
À noite fui com os Estarolas, a S., a Mariana e a Francisca ver o jogo Portugal-Sérvia. GANDA SELO DO SCOLARI. Mas foi um bocado para o triste, nao me deixou lá muito orgulhosa do Sr. Seleccionador ("Bânco? Bânco é Cáixa!"), ainda que tenha havido gente a bater palmas lá no café 12 + 1. Nao percebi bem porquê, agora aplaudimos a bregeirice?...

Mas pelo meio das distracçoes todas, o F. questionou-me: "Entao, porque é que vieste para Erasmus?". Acho que aí caiu um bocadinho da moeda... Deu-me um aperto na garganta e disse: "Acho que nao sei... Olha, vou lavar a louça!". Mas fiquei a pensar. Nao encontro nenhuma razao plausivel sem ser "esta é uma oportunidade". Nao gosto de nao fazer as coisas e de ficar a pensar que sou fraca, nao gosto de desistir. Mas também nao gosto muito de pensar. Será que vim por teimosia, casmurrice, alguma espécie de orgulho ou para cuidar melhor de mim e aprender coisas básicas como cozinhar e sentir a vossa falta?
Tenho sido forte, mas isto é cansativo. E espanhol nao é uma língua bonita!,lol.

As minhas aulas de español começaram ontem. Somos um polaco, um autríaco, uma holandesa, uma franco-alema, uma portuguesa (eu) e 6 alemaes. Obviamente que de vez em quando eles falam entre si e eu, o polaco e a professora anhamos perdidamente! Mas é giro, porque eles falam bem espanhol e nao nos querem por de parte. Além disso, querem ficar comigo, porque sou uma 'ave rara' e a mais nova. Sabem conjugar verbos e completar gramática que eu e eu sei mais vocabulário. Fica equilibrado ;)
Hoje acordei com mau humor (sim, o célebre!). E fui obrigada a falar espanhol ainda por cima. Deus me ajude!
Agora vou para a Gótica, isto é, enfrentar os meus 33min de comboio e mais 15 até chegar ao meu andar e meter a chave à porta. Ai, que saudades da minha Telheiras!
Nao ponho fotos porque o meu computador parece nao gostar muito delas... Mas hoje à noite tento de novo, que já tenho algumas!

PS- Sim, o meu blog nao tem uma escrita pensada. Escrevo isto à pressa na faculdade quando tenho net. Perdoem-me:/

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Jazztel emprestada.

Hoje o meu ninho português foi embora no táxi 3757. Guardei as lágrimas, porém, sou mentirosa. Choro porque tenho uma fortuna em boas recordações!

Chegou o furacão J. ao mesmo tempo que o táxi se afastava, para me fazer companhia e me distrair. É reconfortante ter alguém que conversa, que se ri, que se preocupa, que se voluntaria e sabe cozinhar!
Escolho ir passear, comer um gelado à noite, ir ao mercado, subir e descer a Rambla, procurar um caminho alternativo para a minha Gótica e não ter medo de sair à rua. Na rua, aqui em Barcelona, nunca estamos sozinhos! E, como ainda não experimentei o feeling de estar sola, prefiro nem ter um bocadinho desse sabor até me saber aguentar bem!

Abri um apartado para que me possam enviar correspondência! Claro que ficarei ansiosamente à espera que me mandem miminhos via postal :D

À tarde fui à UAB com o J. e descobrimos onde era o ginásio da universidade e não é nada mau (e é 31,50€/mês)! Tem piscina, ginásio de cardio, pesos, courts de ténis, sauna, jacuzzi, aulas...Contudo, tenho de ver se é melhor inscrever-me lá ou se por aqui ao pé de casa, porque a minha camarada S. encontrou um igualmente bom e barato (33€/mês) ao pé da Rambla. A ver! (como dizem os espanhóis!)

Agora... É tarde. Tenho o quarto todo desarrumado (tenho um wc só para mim!), mas quando o arrumar vai ser o mais querido do mundo, até porque comprei um poster giro! Ah!, mandem-me coisas para eu colar nas paredes!
(Depois tiro foto!)

Não gosto de escrever em computador, irrita-me e conto as coisas mais estapafúrdias! Para além disso, estou cheia de calor e isto de roubar a net do vizinho não é lá muito confortável porque tenho de estar no sofá que é mole! Mas enfim, ao menos tenho net ;)

Assentar.

Erasmus não é para nos esquecermos de quem gosta de nós, não é para cortarmos amarras ou para fugir. É para sair de casa, de cabeça levantada, sem medo, com vontade de aprender as coisas mais básicas e nem tanto para nos perdermos nas intelectualidades que tendem a minar a nossa educação.
Deixei Lisboa, mas não para trás. Estou em Lisboa, sou de Lisboa e sou Lisboa. Sou aquele rio, aquele mar, aquelas ruas que conheço tão (tão!) mal, aquelas pessoas cansadas do metro, as mercearias, as lojas pequenas, a telepizza, um bocadinho da Baixa, o sol e o jardim. Sou uma de vocês e, essencialmente, vossa.

Trouxe Lisboa, a minha casa, a minha vida comigo. Minha Família que tanto amo! Obrigada pela companhia; são as melhores pessoas, os melhores e mais dedicados (e engraçados também!) amigos e não podia ter começado tudo isto sem vocês. Estaremos sempre juntos!

domingo, 9 de setembro de 2007

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Ancorada de fresco.

Cheguei a Barcelona ontem.
Antes de mais é necessário que explique o título deste blog. Nao, nao sou gótica (acabei de me aperceber que os espanhóis nao tem til ou acento circunflexo =x), a minha casa é que é! E apenas porque viverei agora numa casinha no Barrio Gótico, o bairro mais antigo de Barcelona, situado na Ciutat Vella.
Eu gosto da minha casa. É pequena mas tem janelas e varandas e fica numa ruazinha muito estreita, a uns 10minutos a pé das ramblas. Tenho vizinhas velhotas que cantam às janelas e bares aqui ao pé. Ontem tive medo de uns bebados deitados no meio de umas ruas que apanhei desde a Rambla, mas nao e posso preocupar muito com isso. A verdade é que hao-de haver caminhos melhores, eu é que sou a maior naba em termos de sentido de orientaçao! Mas nao ha-de ser nada.
Mas sim, a casa fica num bairro antigo. Por isso, mesmo que esteja toda arranjadinha por dentro (o meu quarto vai ser o mais giro), nao se assuste com a escada do prédio quando cá vierem (porque virao, nao é? ;)) :P
Agora estou na universidade. Demoro imenso tempo para cá chegar, mas vale a pena. Tem muitas árvores e a minha faculdade (ciències de la comunicació) é, DE LONGE, mais bonita e arranjada que a FCSH. Tem estúdios de tv e rádio que me pareceram excelentes e cacifos e tem um ar limpo. É gira :) Assim que tiver net no meu computador, ponho aqui fotos!
A Universidade Autònoma (UAB) é um Mundo. Enorme, enorme, com cinema, teatro, farmácia, papelaria, livraria, muitas bibliotecas (estou agora numa das duas dedicadas às Humanidades, sendo que uma é só para comunicaçao) e muitos sitios para comer. Tenho de ver se encontro o ginásio mas, acreditem ou nao, aqui só de mapa na mao ou a perguntar é que se encontra alguma coisa!
Vim agora do exame de espanhol. Era metade no pc e metade em entrevista. Tive 4,5 e 4 em 5! :D Fiquei no nível 4 e já começo na Quarta-feira! Terça é feriado porque é o Dia de la Catalunya. Sim, eles sao muito dedicados ao seu patriotismo regional!

E pronto, é isto. Comecei a sentir a vossa falta assim que me fui embora (sem lágrimas, acho que mesmo agora ainda nao caiu a moeda...) e hoje quando acordei estava um bocadinho para o choramingas... Mas nao quero nada desistir. Desde que cheguei aqui à UAB fiquei com outro alento, porque isto tem tanto para explorar!


PS - Nao tentem mandar-me cartas para a morada que vos dei. A caixa do correio é uma miséria e vou pedir um apartado aos correios. Depois logo vos digo qual é! Por enquanto, podem mandar-me mails ;)
PSS- Quini: aqui estao aqueles pormenorzinhos superficiais! :)